Economia

DA CERA E DO BABAÇU... PARA A SOJA

Magno Pires

         Evidente que o Brasil relegou o ciclo econômico do extrativismo vegetal e da agropecuária extensiva, com a mudança (ou substituição) de sua matriz econômica na década de 50/60, para um modelo industrial, com o avanço ou introdução da indústria automobilística e da siderúrgica. O princípio da expansão dos plantios de soja nos cerrados do centro-oeste e a inauguração de Brasília. Os governos de Getúlio Vargas (1930 a 1945 e 1951 a 1954) e JK (1955-1960) foram os responsáveis pelo extraordinário desenvolvimento experimentado pelo Brasil nesse período, com a implantação do nosso parque industrial e as mudanças radicais sócias-políticas e culturais que surgiram a partir dessa base. O país era um exportador de produtos agrícolas, especialmente cacau, café, açúcar, cera de carnaúba, babaçu, maniçoba e borracha. Subsistiram a mudança do ciclo apenas o café e o açúcar, ainda em grande quantidade, e em escala menor cacau e a cera de carnaúba; mas o óleo do babaçu e do tucum foi substituído pelo da soja, o qual também passou a ser produzido na década de 90 no Piauí, com o início dos plantios de grãos de soja no Cerrado piauiense, notadamente em Uruçui e Bom Jesus. Esse fenômeno da alteração na matriz também alcançou profundamente a produção da borracha na Amazônia então um dos maiores produtores do planeta. E grande exportador do produto para vários países do mundo.

         A substituição desse ciclo econômico ocasionou fortes prejuízos ao Nordeste, especialmente aos estados produtores de cera de carnaúba, babaçu e tucum, conquanto o óleo do babaçu, consumido em grande escala nos estados do Piauí e do Maranhão, principais produtores da amêndoa, não teve substituto (ou outra alternativa) e sucumbiu à inovação e à concorrência de outras nações. A cera de carnaúba foi substituída por produtos sintéticos produzidos nos países que a adquiriam como matéria prima para sua indústria. A cera ainda é produzida e comercializada, bem assim o coco babaçu; mas extensos babaçuais e carnaubais deixaram de ser colhidos por conta da carência de mão de obra, forte queda no preço dos produtos e a concorrência do óleo de soja que praticamente substituiu o de coco, embora este seja melhor que aquele. O mercado do agronegócio prepondera atualmente.

         O que quero ressaltar, embora possa parecer mais uma questão atávica, idealista e saudosista, que a exploração dessas três atividades econômicas (cera, babaçu e tucum), duzentas mil pessoas no Norte, Nordeste e centro—oeste ainda dependem (ou tiram a sua subsistência) de sua produção sem qualquer programa, plano e projeto do governo, que as auxiliem para facilitar suas vidas e minimizar as imensas  dificuldades da colheita, produção e comercialização dos produtos. Presumo que os vastos plantios de soja nessas regiões na ocupem tanta gente porque a produção da soja é auxiliada pela alta tecnologia, conseqüentemente ocupando e empregando pouca mão de obra. Portanto, os governos do Brasil, do presente e do futuro, tém um vasto debito, que deve ser saldado, com esses milhares de brasileiros que ainda trabalham nessa atividade e dela tiram a sua sobrevivência, com enormes dificuldades, em condições subumanas, assemelhando-se ao escravismo, embora o combate, ainda vigente em algumas regiões do Brasil.

Magno Pires é advogado da União (aposentado), Membro da Academia Piauiense de Letras – APL, Membro da Associação Nacional dos Escritores - ANE

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