Política

SOLIDARIEDADE DOS POLÍTICOS

Os políticos são extremamente solidários (ou sensibilizados) até na morte dos adversários. Embora, enquanto vivos, são capazes de quaisquer atos insanos para extinguir a liderança dos inimigos. Vivos, são autofágicos, não perdoam absolutamente nada para impor a sua conduta de líder. Além de solidários na morte, não faltam ao enterro e nem missa de sétimo dia. Estão antenados nesse campo. Esse procedimento circunstancial desqualifica o político porque é oportunismo. Conquanto, em momentos como esse, nenhum membro da família reagirá para retirar o adversário da cerimônia fúnebre. Exclusivamente o arraigado sentimento religioso brasileiro explica essa conduta.

Esse congraçamento geral do brasileiro, especialmente dos políticos, firma e (re) afirma um sentimento de condolências, mas exasperando a condição política, como fator essencial para aproveitar-se da cerimônia e efetuar os seus pêsames.

            O assassinato do apresentador de televisão Donizete Adauto, deixou o Piauí, notadamente a capital (Teresina), com as ruas repletas de populares, notoriamente das camadas sociais paupérrimas, porquanto o jornalista/apresentador  da televisão Meio Norte simbolizava um sentimento de justiça de alto grau para esse segmento fragilizado da sociedade. Nem sequer a morte e o enterro do ex-prefeito Wall Ferraz levou tanta gente às ruas; embora Wall tivesse seguidores em todos os setores sociais, diferentemente de Donizete Adauto. Mas, com certeza, os pobres não mandaram matar  o jornalista. O crime (ou os crimes) denunciado por Donizete continua existindo  e ocorrendo no Piauí  envolvendo o patrimônio do Estado. E a Policia Civil, com um policial suspeito, permanece na linha de investigado. Ninguém foi definitivamente condenado. E parece que não será. Justamente porque Donizete Adauto é “de fora”, “forasteiro”, e a sociedade do Piauí tem forte preconceito com pessoas “de fora” que obtenham sucesso no Estado. Donizete foi assassinado também por esse motivo. Ademais, amável, inteligente, competente e ciente de seu jornalismo investigativo que os ricos do Estado não aceitam. Donizete tinha os seus pecados ou exageros. Contudo, era querido pelos que se achavam injustiçados pela sociedade e o Estado; tinha uma cadeira de deputado federal assegurada. Isso encheu de inveja e, certamente a derrota anunciada de um postulante de origem piauiense.

            A matriz política do Piauí é péssima, com agentes políticos tradicionalmente familiar e patrimonialista, extremamente danosa às suas riquezas e seus recursos, responsável pela sua pobreza endêmica. E enquanto perdurar, o Estado não terá condições de atender às fortes demandas da maioria da sociedade, que continuará pobre e miserável, e a depender prioritariamente dos programas sociais para sobreviver. Os políticos, os agentes públicos, muitos empresários e os afortunadamente ricos não gostarão de ler este artigo (se é que leem alguma coisa) diferentemente de seus resultados financeiros mensais e anuais, fortemente positivos, porém, auferidos em cima da maioria de pobres e miseráveis do Piauí – reafirmo.

 

            Os políticos piauienses continuarão sensibilizados na morte, no enterro, na cerimônia de sétimo dia, na doença, na festa de aniversário  e do casamento...., mas radicalmente indiferentes à endêmica pobreza do Piauí, que cria um sentimento fóbico e intimidador de assaltos nas ruas, com origem também na forte concentração de renda de que o Piauí é um dos lideres nacionais; embora com pré-condições de inúmeras riquezas naturais e materiais de sair desse Estado de miséria e pobreza absoluta. Enquanto não exploradas surgem e reaparecem as organizações sociais criminosas de uma sociedade  em pânico, com receio do crime organizado, que o Estado, impotente, não estanca, tampouco interessa desvendar os crimes para condenar os poderosos.

Magno Pires é advogado e Membro da Academia Piauiense de Letras – APL.

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