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DISCURSO DA POSSE DO SUPERINTENDENTE DA SUDENE NO MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL

  Ao final dos já distantes anos 50, em raro momento de criatividade na política nacional, um movimento iniciado pela Igreja Católica, com a participação de outros importantes segmentos sociais e de lideranças políticas regionais, contando com a sensibilidade de Juscelino Kubitscheck e o talento de Celso Furtado, levou o Governo Federal à criação da SUDENE que, juntamente com a CHESF e o BNB, tornaram-se símbolos das aspirações de desenvolvimento do povo nordestino. À SUDENE coube, pois, a missão de articular lideranças técnicas e políticas em torno do ideal desenvolvimentista. A implementação dessa estratégia regional de crescimento, concebida e executada pelo gênio de Celso Furtado, produziu resultados positivos sobejamente reconhecidos. Não há negar as grandes conquistas que tivemos, no campo econômico e social, por força da ação da SUDENE. Por outro lado, a crescente inserção do Brasil na economia mundial, a partir das últimas décadas do século XX, integrando-o cada vez mais ao resto do mundo, forçou a ocorrência de novas transformações no País. Tal processo de internacionalização da economia não evitou, contudo, o agravamento das disparidades regionais e das lutas internas de mercado, desaguando no esvaziamento da SUDENE, que teve seus horizontes e objetivos limitados pelos interesses dessa economia globalizante que se instalava com maior vigor no Centro-Sul. O efeito mais severo de tal fenômeno foi a precipitada extinção da SUDENE, com graves danos à economia e às esperanças da região. A SUDENE não cometeu erro conceitual, daí porque permanece atual a concepção de seus criadores. Atento a tal circunstância, somente a coragem destemida do nosso Presidente Lula foi capaz de rever e mudar o quadro de esvaziamento e empobrecimento do Nordeste. Nesse momento – e para sorte nossa - uma nova aura de criatividade política prenuncia a revitalização do órgão que vou dirigir, graças à sensibilidade e à autoridade de nossa Presidenta Dilma Roussef e ao inspirado sentimento de nordestinidade de nosso Ministro Fernando Bezerra Coelho, circunstâncias que, com certeza, levarão a SUDENE a retomar suas funções de integradora e estruturadora dos ideais de crescimento e modernização do Nordeste. E tal retomada se impõe, pois se tivemos conquistas importantes, elas não foram capazes ainda de reduzir o hiato existente entre a base produtiva regional e o contingente demográfico que a sustenta e dela depende, conforme conclusões do GT Interministerial para a recriação da SUDENE. Em outras palavras, decorridos pouco mais de meio século de sua criação, os desafios continuam presentes ainda hoje. Se naqueles tempos áureos da SUDENE tínhamos a nos guiar a esperança, hoje a nossa bússola política é também a própria Constituição Federal que, dentro do ideário político do Estado Democrático de Direito, prevê a redução das desigualdades regionais como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. A missão da SUDENE, e a missão precípua do Superintendente, é articular as forças sociais e representativas para promover o desenvolvimento do Nordeste. Por outro lado, o acionamento dos mecanismos de articulação e negociação atribuídos ao seu dirigente máximo, serão de pouca valia, se não contarmos, nos processos decisórios de interesse do Nordeste, com a participação ativa das forças políticas regionais, representadas pelos governadores, prefeitos e parlamentares, e por todas as forças vivas da região, que devem ser convocadas para a tarefa inadiável de fortalecimento político da SUDENE, como instrumento de superação das desigualdades regionais que ainda caracterizam o Nordeste no conjunto das regiões geopolíticas brasileiras. Senhor Ministro Fernando Bezerra Coelho, nordestino de boa cepa: Hoje, um sertanejo do coração do semi-árido piauiense assume a superintendência da SUDENE, graças à generosa indicação do preclaro Governador do Piauí, Wilson Martins, a par do apoio do ilustre Governador Eduardo Campos, que, do ponto de vista partidário, nos comanda a todos no Nordeste, pela autoridade moral de suas raízes e de seu exemplo. Confesso que não esperava que, por força dos meandros insondáveis do destino, viesse a ocupar o cargo no qual pontificaram brasileiros do porte de Celso Furtado, Albuquerque Lima, Euler Bentes Monteiro, Stanley Batista, Walfrido Salmito, e tantos outros. E não esperava ainda que, no bojo de uma seca que se configura impiedosa, o ato de repensar o Nordeste ressurgisse com a força mágica daqueles brasileiros que nos antecederam no comando da SUDENE. De minha parte, estando disposto ao trabalho e ao seu fortalecimento, só me resta repetir o poeta: - “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”, e assim armado juro lutar pela SUDENE, pelo Nordeste e pelo Brasil para corresponder à confiança que está sendo depositada em minhas mãos. Obrigado.