Literatura

Entre Barras e a Eternidade: 148 Anos de João Pinheiro

Entre Barras e a Eternidade: 148 Anos de João Pinheiro

Neste 16 de maio de 2025, a Academia Piauiense de Letras volta os olhos ao tempo para saudar a memória de João Pinheiro, patrono da Cadeira nº 2 e um dos fundadores da Casa de Lucídio Freitas. Nascido em 1877, na antiga vila de Barras, há exatos 148 anos, João Pinheiro permanece como um desses nomes que, mesmo vencidos pela matéria, resistem na forma das ideias — vivas, pulsantes, perenes.

Filho do coronel João José Pinheiro, natural de Rosário (MA), e de Maria Castelo Branco, João herdou do pai não apenas o nome, mas o ímpeto público, o espírito altivo e o gosto pelas causas maiores. Seu pai, figura de destaque na política do século XIX, ocupou cargos de relevância como Secretário de Estado, Deputado Provincial, membro do Conselho Municipal e, por fim, presidente da Assembleia Legislativa Provincial — uma ascendência que não lhe impôs privilégios, mas que lhe ensinou o peso e o dever da responsabilidade cívica.

Concluída a instrução básica, Barras se tornou estreita para os horizontes que se descortinavam. A juventude o levou a Parnaíba, onde conciliou o comércio com os estudos. Depois, seguiu para Teresina e, em 1895, partiu para Salvador, onde matriculou-se no curso de Odontologia, graduando-se em 1898. De volta à capital piauiense, não demorou a ocupar postos de relevo na vida pública e na esfera educacional: Diretor do Liceu Piauiense entre 1936 e 1938, Diretor da Instrução Públicacatedrático de Língua Portuguesa. Cada cargo, para ele, era mais que um ofício — era missão.

Mas foi na linguagem, na palavra cuidada e pensada, que João Pinheiro edificou sua eternidade. Em 1917, ao lado de outros nove nomes luminosos da intelectualidade piauiense, fundou a Academia Piauiense de Letras, inscrevendo-se como sócio-fundador e titular da Cadeira nº 2, cuja patronagem ofereceu ao poeta Hermínio Castelo Branco — talvez num gesto de delicada homenagem às raízes maternas e ao lirismo que sempre respeitou.

João Pinheiro foi mais que um técnico da saúde ou um gestor da educação: foi um artífice da civilidade, um humanista silencioso que entendeu a palavra como ferramenta de transformação. Escrevia com clareza e ardor, e pensava com profundidade. Suas ações e ideias cruzaram os domínios do tempo e se inscreveram no solo mais duradouro que a pedra: o da memória institucional.

A presidente da APL, acadêmica Fides Angélica Ommati, resume a dimensão simbólica de sua figura:

“João Pinheiro é um dos rostos fundadores da nossa Casa. A cada 16 de maio, não celebramos apenas um nome, mas uma vocação — a de servir ao saber, à justiça e à palavra como forma de permanência. Ele é pedra fundamental, verbo inaugural.”

Hoje, ao evocarmos os 148 anos de seu nascimento, celebramos mais do que uma biografia: celebramos um arquétipo. João Pinheiro é um elo entre o sertão de Barras e a eternidade das ideias. Um nome que não se apaga. Uma presença que ainda ensina.

Foante: https://www.academiapiauiensedeletras.org.br/entre-barras-e-a-eternidade-148-anos-de-joao-pinheiro/