Ser acadêmico, por Felipe Mendes
Dando continuidade à série “O que é ser imortal para mim”, a Academia Piauiense de Letras publica a reflexão do economista, professor, fotógrafo e ex-parlamentar Felipe Mendes, membro efetivo da instituição. Em tom sereno e memorialista, o acadêmico remonta aos caminhos que o levaram à Casa fundada por Lucídio Freitas, entre convites, recusas e reencontros.
Tudo começou há cerca de duas décadas, quando recebeu, do também acadêmico M. Paulo Nunes, o convite para disputar uma vaga recém-aberta na APL. À época, Felipe Mendes encerrava sua trajetória na vida política, como deputado federal, e se reorganizava para a docência universitária na Universidade Federal do Piauí, com foco na pesquisa e na formação acadêmica. Gentil, porém direto, declinou do convite — decisão que, como lembra, não agradou ao interlocutor.
“Um convite como esse não se recusa”, teria dito Paulo Nunes, com ar de reprovação.
Com o passar dos anos, incentivado por outros amigos, decidiu finalmente apresentar sua candidatura. Procurou o mesmo Paulo Nunes, agora mais próximo na convivência familiar, para comunicar sua decisão. A resposta, inesperadamente ríspida, manteve o tom exigente:
“Você perdeu a oportunidade que eu lhe abri. Agora entre por sua conta e risco.”
Felipe Mendes aceitou a provocação com humildade e dignidade, pedindo-lhe o voto. E, segundo relatos, viu o mesmo Paulo Nunes discretamente empenhado na sua eleição. A disputa foi ao segundo turno, e o acaso abriu outras duas cadeiras, uma delas deixada pelo amigo Raimundo Santana, para a qual acabou sendo eleito.
Na visão de Felipe Mendes, ser acadêmico é um privilégio que implica responsabilidade intelectual e convívio enriquecedor. Destaca a diversidade de áreas representadas na APL — para além da literatura — e a exigência silenciosa de que cada membro siga contribuindo com produção e reflexão.
“Ser acadêmico, para mim, é ter o privilégio do convívio com intelectuais de notável cultura nos diversos ramos – não apenas poetas e romancistas – o que me confere maior responsabilidade na produção acadêmica e no aprendizado cotidiano das reuniões.”
Formado em Economia, com passagens pela gestão pública como secretário de planejamento do Estado, o acadêmico vê na atuação da APL a mesma busca que o moveu na vida pública: construir o futuro com os alicerces do passado. Assim, associa o papel da Casa ao esforço coletivo e intergeracional pela permanência da cultura e do pensamento.
“É isso que faz a APL: uma sólida e respeitável história, sempre responsável, por seus membros, em construir um futuro melhor para as gerações vindouras.”
Fonte:https://www.academiapiauiensedeletras.org.br/ser-academico-por-felipe-mendes/
